segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Perderam os limites do Ridículo

Rebecca Santoro
08/10/2007

“Controladores denunciam comando da FAB” – Este é o título do artigo da coluna de Eliane Cantanhêde, na Folha de São Paulo desta segunda-feira, 8 de outubro, que traz matéria de Leila Suwwan, da sucursal de Brasília da Folha.

O advogado dos controladores, Roberto Sobral, vai entrar com denúncia-crime contra brigadeiro Juniti Saito, por rebeldia contra a Presidência da República, sob o argumento de que os comandantes dos centros de controle de tráfego aéreo (CINDACTA), sob as ordens do Comandante da Aeronáutica, abandonaram seus postos, durante o motim dos controladores – acontecido em março deste ano -, colocando, assim, em risco a segurança do transporte aéreo no país, entre a noite do dia 30 e o meio-dia de 2 de abril, quando os oficiais retornaram ao trabalho.

Na ocasião, ludibriados pelas promessas de acordo com o governo (e afinal patrocinados pelo próprio – vide encontro, às vésperas do motim, em Brasília, da chefia de insubordinação dos controladores com o ex-ministro da defesa, Waldir Pires, em pessoa, numa espécie de articulação do espetáculo que estava por acontecer), os controladores, por conta própria, fizeram toda a coordenação com os outros centros do país.

O conteúdo da denúncia que será apresentada pelo advogado Roberto Sobral não é nenhuma novidade, já que, ainda no auge da crise com os controladores – quando houve o motim - se discutia, através da imprensa, que, por questão de raciocínio lógico, se houve insubordinação dos controladores contra a chefia da Aeronáutica, ao se recusarem a trabalhar nos CINDACTA I e IV, também teria havido insubordinação destes mesmos chefes – no caso, os oficiais – em relação às ordens do comandante em chefe das Forças Armadas, o presidente da república, que havia ordenado o não cumprimento dos mandados de prisão contra os amotinados e que houvesse uma negociação com os mesmos para que voltassem ao trabalho.

Diante da atitude presidencial, no dia 31 de março, Saito reuniu o Alto Comando da Força Aérea no seu gabinete para discutir a quebra de hierarquia por parte dos controladores e soltou nota à imprensa, dizendo que se desobrigava da responsabilidade pelo controle de tráfego aéreo no país, a partir de então. A crise só terminou quando o presidente Lula voltou atrás na negociação com os controladores (virou às costas para eles, mais especificamente) e resolveu colocar todas as decisões sobre o problema (que ele próprio havia criado, diga-se de passagem) nas mãos do comando da Aeronáutica.
A saída encontrada pelo comando foi pedir a abertura de Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar o crime de motim cometido pelos controladores insubordinados – o que acabou resultando, meses depois, no indiciamento de sargentos e de sub-oficiais da FAb. Esse resultado é que teria levado a classe a entrar com a denúncia-crime contra o comando da Aeronáutica, através do advogado Roberto Sobral.

A denúncia, que será analisada pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza (que poderá ou não acatá-la), acusa também a FAB de ocultar falhas do sistema; de não treinar adequadamente os controladores para uma tarefa que envolve risco de morte de terceiros e ainda de não ter melhorado as condições “objetivas” (?) que eles consideram ter contribuído para a colisão de um jato Legacy com um Boeing da Gol, em setembro do ano passado, quando morreram 154 pessoas.

O engraçado nesse último item da acusação é que, diante de tantas respostas que ainda faltam ser dadas aos brasileiros sobre o citado acidente, inclusive com provas contundentes de que tenha havido realmente a própria colisão em si, parece que os controladores sabem um pouco mais do que tem sido revelado até agora, uma vez que, diante da própria acusação que fazem contra a Aeronáutica, parecem assumir que tenha havido um incontestável erro por parte do controle de tráfego aéreo.

Teria havido desvio das duas aeronaves para a mesma direção? Sim, a pergunta é perfeitamente pertinente, já que POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, E ATÉ HOJE, NEM EU, NEM VOCÊ E NEM NENHUM DOS PARENTES DAS VÍTIMAS DO ACIDENTE COM O GOL CONSEGUIMOS SABER QUAIS ERAM AS COORDENADAS DAS DUAS AERONAVES DURANTE OS MESMOS INTERVALOS (DE TEMPO) AO LONGO DE SEU TRAJETO PELA AEROVIA UZ-6. É IMPRESSIONANTE: ATÉ HOJE TEMOS QUE NOS SATISFAZER COM A INFORMAÇÃO DE QUE OS DOIS AVIÕES, APENAS POR TRAFEGAREM EM DIREÇÕES OPOSTAS, E À MESMA ALTITUDE, NUMA AEROVIA COM PELO MENOS 300 METROS DE LARGURA, TERIA SIDO RAZÃO SUFICIENTEMENTE ÓBVIA PARA QUE TIVESSE HAVIDO COLISÃO ENTRE AS DUAS AERONAVES.
QUAIS ERAM AS COORDENADAS?

POR QUE TERIA HAVIDO INDICIAMENTO DOS CONTROLADORES DE BRASÍLIA, SE O ACIDENTE OCORREU JÁ DENTRO DA ÁREA DE CONTROLE DE MANAUS (AO NORTE DE ISTAR)?

POR QUE NÃO HOUVE ORDENS EXPLÍCITAS DE QUE ACHAR O PEDAÇO DA ASA DO GOL (COM 6 METROS) SERIA IMPRESCINDÍVEL E SOB O QUE TERIA DE SER DADO PRIORIDADE ABSOLUTA NAS BUSCAS?

POR QUE OS PILOTOS DO BOEING DA GOL – QUE INCLUSIVE INTERCEPTARAM CHAMADAS DA TORRE DE BRASÍLIA PARA O LEGACY – JAMAIS TENHAM SIDO ALERTADOS SOBRE O POSSÍVEL DESCONTROLE SOBRE AS COORDENADAS DO LEGACY?

POR QUE NENHUM DOS PILOTOS DAS DUAS AERONAVES JAMAIS SOUBE TER COLIDIDO COM OUTRO AVIÃO, A NÃO SER, NO CASO DO LEGACY, DEPOIS DE TER SOBREVIVIDO AO ACIDENTE?

POR QUE AFIRMAM QUE O BOEING, LOGO APÓS A COLISÃO, TERIA DISPARADO EM PARAFUSO DE QUEDA VERTICAL, SE A INFORMAÇÃO CONSTANTE DOS RADARES MOSTRA CLARAMENTE QUE O MESMO, ANTES DE DESAPARECER DAS TELAS DESTES RADARES, MANTEVE A MESMA ALTITUDE, POR ALGUNS MINUTOS, ENQUANTO SUA VELOCIDADE IA SE REDUZINDO DE 450 PARA 290 E DEPOIS PARA 200 KNOS?

POR QUE O CILINDRO DE VOZ DA CAIXA-PRETA DO BOEING FOI CONFIRMADO COMO TENDO SIDO ENCONTRADO, DEPOIS DE NÃO TÊ-LO SIDO E, ENFIM, DE TER SIDO FINALMENTE ENCONTRADO, ENTERRADO, EM LOCAL NÃO MUITO ESPECIFICADO, PARA QUE NÃO PUDESSE HAVER ILAÇÕES SOBRE SE LÁ E NAQUELAS CONDIÇÕES PODERIA TER IDO PARAR?

Quando eu falo sobre “Perderam a Noção do Ridículo” não o faço somente em relação aos controladores – no caso da ação que movem contra o comandante da Aeronáutica Juniti Saito, mas também em relação a todos as respostas acima, que não foram dadas, e que, por certo, não poderiam deixar de sê-lo, para que se tivesse um mínimo de base para que os inquéritos havidos a respeito deste acidente (entre o Legacy e o Gol) pudessem ter recomendado o indiciamento dos pilotos do Legacy e de 4 controladores de tráfego aéreo.

Perderam a noção do ridículo porque não assumem que o que está por trás da crise aérea é o desejo transnacional de haja a ampla, geral e irrestrita privatização - e posterior monopolização (mundial) - de todo o sistema de tráfego aéreo, não somente aqui no Brasil, mas no mundo todo (muito diferente do que quer fazer parecer o ministro da defesa, Nelson Jobim, ao repetir, sempre que indagado a respeito de controladores, de que toda a “crise” se trate apenas de uma questão de aumento salarial).

Perderam a noção do ridículo porque não existe nem mais uma preocupação com a verossimilhança (relação de plausibilidade entre um fato e o que se descreva a respeito do mesmo) ao se produzir ou ao se interpretar determinados fatos relevantes dentro de um processo, cujos resultados (e objetivos) todos sabem já estar previamente agendados, e tidos como inevitáveis, tratem eles de quaisquer que sejam o temas.

Rebecca Santoro
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