sábado, 4 de agosto de 2007

FALANDO SOBRE CREDIBILIDADE

Christina Fontenelle
04/08/2007

Ontem, quando dei destaque ao furo de reportagem de Jorge Serrão, no Alerta Total, que falava sobre uma denúncia - feita por um brigadeiro da ativa da Aeronáutica, que, por razões óbvias, não pôde se identificar - de que uma das caixas-pretas do Airbus da TAM que se acidentou no último dia 17 de julho, matando 199 pessoas, fui agraciada com e-mails de alguns leitores (não pude ainda ler todos, posto que são muitos os que diariamente recebo) que diziam que "assim também já era demais" - que eu deveria tomar cuidado para não perder a credibilidade, etc.

Acredito que estes e-mails tenham sido enviados, principalmente porque eu republiquei, abaixo da denúncia do Alerta Total, uma nota que havia postado no dia 24 de julho, na qual eu já falava sobre a estranha coincidência de ter havido, digamos, "desencontros de informações" fornecidas pelos órgãos oficiais, em relação aos cilindors de voz das duas aeronaves que protagonizaram os dois maiores e mais recentes acidentes aéreos da história da aviação no Brasil - os jatos da Gol e da TAM.

Ainda não pude responder a ninguém. Mas certamente o farei. E o farei pela simples razão de que, se eu também não tivesse que lidar com o festival diário de mentiras e falsificações com o qual têm tido de trabalhar os profissionais da imprensa, há cerca de 10 anos, e, mais especialmente ainda, nos 5 pultimos 5 deles, eu também não conseguiria imaginar a magnitude e a gravidade da tergiversação que tomou conta do país. Por isso, sem querer convercer ninguém a aceitar o que quer que publique ou assine como a expressão máxima da verdade e do correto - posto que todos somos humanos e podemos errar, além do fato de que há que se respeitar outros pontos de vista que sensatos também pareçam - acho que todas estas pessoas merecem ser respondidas porque, no fundo, estão elas, também, em busca de informação e de verdade. Eu diria, inclusive, que entre algumas dessas pessoas, haja aquelas que, realmente, estejam preocupadas com que eu mantenha a minha credibilidade.

Bem, para estas pessoas, metade da resposta segue agora neste pequeno texto - e elas vão entender muito bem o porquê disso. Todos devem se lembrar perfeitamente que o excelentíssimo senhor presidente da república recebeu na quinta-feira passada um pequeno grupo de familiares das vítimas do acidente da TAM. Ele disse estar solidário a todos e que faria de tudo para que as causas doacidente fossem totalmente esclarecidas. Disse mais. Falou que não sabia realmente da gravidade da crise pela qual já vinha passando o setor aéreo e que, nas cinco eleições que já disputara, em nunhuma delas esse tema teria sido abordado.

Em que pese o absurdo de uma declaração como estas, para um homem que já está há cinco anos cumprindo mandato de presidente da república - sempre pode "colar" mais uma vez, como tem acontecido em várias outras oportunidades, como no caso do mensalão, da compra do dossiê contra os candidatos tucanos ao governo de São Paulo e à presidência, nas últimas eleições, por um bando de coleguinhas "aloprados" seus de partido.

Acontece que, 48 horas depois de ter dito isso, o jornal O Globo, surpreende não só o presidente, mas também a grande parte da população, ao publicar artigo escrito pelo próprio Lula, em 2000, no qual ele discursava - já naquela época - sobre a gravidade da situação do setor aéreo no Brasil.

Eu pergunto, agora, aos que me escreveram sobre "credibilidade": isso que fez o exelentíssimo senhor presidente, mentindo para os familiares da vítimas do acidente da TAM - cara a cara com eles - e para toda uma nação de indivíduos atônitos, também já é um tanto quanto inacreditável demais? Ninguém seria capaz de uma coisa tão sórdida dessas?

Penso que, em matéria de credibilidade, eu e outros jornalistas desse país talvez mereçamos um pouco mais de crédito do que o governo que aí está. Aproveito para parabenizar aos repórteres de O Globo que conseguiram fazer de um assunto passado e publicado um grande furo de reportagem. Por mais defeitos que possam ter, os jornalistas estão aí para isso mesmo - para informar, para levantar questões, para avivar a memória das pessoas e por aí vai...

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