segunda-feira, 13 de agosto de 2007

TAM: controlador diz que reclamações sobre pista de Congonhas aumentaram com reforma

CRISE AÉREA

Publicada em 09/08/2007 às 17h37m

Maria Lima - O Globo; O Globo Online

A CPI do Apagão Aéreo da Câmara colhe depoimentos dos controladores de tráfego aéreo - Agência Câmara

BRASÍLIA - Em depoimento na CPI do Apagão Aéreo da Câmara, que investiga o acidente com o Airbus A 320 da TAM, o controlador de vôo Celso Domingos Alves Junior disse que as reclamações dos pilotos sobre o estado da pista principal aumentaram depois da reforma. Ele estava na torre do aeroporto de Congonhas no momento da tragédia que resultou na morte de 199 pessoas. O controlador disse ter ouvido pelo menos três relatos de pista escorregadia nos dias de chuva após a reforma, e afirmou não se recordar de ter ouvido reclamações antes da obra. Apesar disso, para o comando da CPI, vai se afastando a possibilidade de a pista de Congonhas ter sido uma causa preponderante do desastre.

Antes do início do depoimento, a CPI divulgou trechos da gravação dos diálogos dos pilotos com a torre de controle. O piloto perguntou sobre as condições da pista, mas em nenhum momento relatou problemas no vôo. Na gravação, os pilotos são informados, primeiramente, de que a pista estava molhada e, alguns minutos depois, pouco antes do toque na pista, de que ela estava escorregadia. Para preservar as famílias dos pilotos, a CPI só divulgou os trechos dos diálogos durante a aproximação do avião, antes do toque na pista. ( Leia aqui a transcrição dos diálogos )

Depois de ouvir Celso Domingos e mais três controladores que também trabalhavam no dia o acidente, o relator da CPI do Apagão da Câmara, Marco Maia (PT-RS), disse que cada vez mais vai ficando claro que a pista não foi um fator preponderante para o acidente.


" A suspeita sobre a pista vai se afastando como sendo um fator preponderante "

- A suspeita sobre a pista vai se afastando como sendo um fator preponderante no acidente. Eu não descartaria a pista porque a gente vai ter de confrontar com os dados da caixa-preta - ponderou o relator.

Marco Maia recebeu o apoio do vice-presidente da CPI, o também governista Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que acredita estar ficando claro que a pista não foi um dos fatores que levou ao acidente. A oposição, no entanto, pede cautela e afirma que é cedo para tirar conclusões.

A CPI ouviu ainda o vice-presidente de segurança de vôo da Airbus, Yannick Malinge. Ele descartou falhas mecânicas ou eletrônicas, sugeriu que houve falha humana, mas não convenceu o presidente da CP I.
Controlador: Até o toque na pista, não parecia haver problema

Na gravação da cabine, um dos pilotos pergunta, às 18h36m, se chove em Congonhas e a controladora de vôo Ziloá Miranda informa sobre chuva leve e contínua e diz que a pista está molhada. Às 18h48m, o piloto pergunta sobre as condições da pista e o controlador Celso Domingos Alves diz que ela estava "molhada e escorregadia". A partir desse trecho, a CPI optou por não divulgar os diálogos. Celso Domingos disse que até o toque do avião na pista parecia que não havia nenhum problema no vôo. A partir do pouso, no entanto, ele percebeu que a aeronave manteve a velocidade até o momento do acidente. Celso acompanhou o avião até ele sair da pista.

Perguntado pelo relator da CPI se havia alguma recomendação específica naquele dia, o controlador informou que, quando começa a chover e algum piloto reporta que a pista está scorregadia, ele repassa a informação a outros pilotos.

Celso Domingos disse que até o toque do avião na pista parecia que não havia nenhum problema no vôo. A partir do pouso, no entanto, ele percebeu que a aeronave manteve a velocidade até o momento do acidente. Celso acompanhou o avião até ele sair da pista.

" Como operador, eu esperava dele uma manobra, mas ele manteve a velocidade até o final "

- Me chamou atenção a velocidade. Como operador, eu esperava dele uma manobra, mas ele manteve a velocidade até o final - disse o controlador.

Celso contou ainda que avisou uma outra aeronave sobre a explosão na cabeceira da pista, mas ela já estava em procedimento de decolagem e não pôde abortar o vôo.

A Aeronáutica enviou para a CPI a gravação da caixa-preta já em condições de divulgação. Na semana passada, a CPI não conseguiu reproduzir o aúdio porque faltava um software específico para ler o CD. No início da sessão, Cunha havia informado que passaria os áudios dos últimos 30 minutos, mas depois os demais parlamentares pediram que ele não divulgasse os trechos que mostram os pilotos desesperados tentando segurar o avião.

Um parecer em fase de elaboração pela Câmara condena a divulgação, pela CPI, das informações contidas nas caixas-pretas do avião da TAM. Cunha, porém, disse que o parecer tem apenas caráter indicativo e que a liberação dos dados seguiu decisão da maioria da CPI. Cunha pediu que seja elaborado um outro parecer sobre o assunto.

Deputado diz que situação de Congonhas é uma 'aberração'

Ao ser inquirido pela deputada Solange Amaral (DEM-RJ), o controlador de vôo Eduardo Dayrel revelou, na CPI do Apagão Aéreo, que em determinados o tráfego em Congonhas é tão intenso que até 15 aeronaves são colocadas em espera ao mesmo tempo circulando sobre o aeroporto. A revelação deixou assustado até mesmo o deputado Miguel Martini (PHS-MG), ex- controlador de vôo, que chamou a situação de "uma aberração" . O deputado então teve uma discussão tensa com o relator Marco Maia.

- Fazer uma declaração dessas solta no ar, sem comparar com outros aeroportos do Brasil e do mundo, fica parecendo que há uma situação de insegurança - protestou Marco Maia.

- Não é uma declaração solta. Isso acontece por falta de planejamento e de controle da malha de vôos. Tanto é que o ministro Jobim mandou refazer as malhas - reagiu Martini.

Mais tarde, Marco Maia reconheceu que o grande número de aeronaves em órbita poderia sim representar problemas de segurança, e disse que caberia cobrar da Anac porque não fiscalizou isso.
Estagiária relata alta carga de estresse

Luana Moreno, estagiária na torre de controle de Congonhas, disse que houve um aumento do tráfego aéreo nos últimos meses e que a carga de estresse é alta. Segundo ela, são constantes as invasões de freqüência dos rádios da torre, mas afirmou que os controladores têm a opção de usar frequëncias alternativas.

- Temos problema todo dia. Estamos falando com uma aeronave e ouvimos música ou ligação de telefone celular a cobrar, isso atrapalha nossa comunicaçao. Ainda bem que temos as frequências alternativas - disse Luana.

Em outra frente de investigação, a CPI do Senado ouviu procuradores da República a respeito de resultados de auditorias realizadas para apurar denúncias de irregularidades em obras em diversos aeroportos do Brasil. O relator da CPI, Demóstenes Torres (DEM-GO), disse que as empreiteiras que ganham as licitações para obras nos aeroportos do país atuam como "um esquema de crime organizado" .

Tragédia em Congonhas

Veja a transcrição dos diálogos dos pilotos do Airbus da TAM com a torre de controle

Publicada em 09/08/2007 às 15h03m

O Globo Online

BRASÍLIA - A CPI do Apagão na Câmara divulgou nesta quarta-feira trechos da gravação dos diálogos dos pilotos do Airbus da TAM com a torre de controle pouco antes da tragédia em Congonhas. O piloto perguntou sobre as condições da pista, mas em nenhum momento relatou problemas no vôo. Na gravação, os pilotos são informados, primeiramente, de que a pista estava molhada e, alguns minutos depois, pouco antes do toque na pista, de que ela estava escorregadia.

Para preservar as famílias dos pilotos, a CPI só divulgou os trechos dos diálogos durante a aproximação do avião, antes do toque na pista. Leia abaixo:

Controladora Ziloá Miranda Pereira - Reduza a velocidade o menor que puder ok?

Piloto Kleyber - Reduzindo velocidade ao máximo possível

Controladora - É que nós tivemos problemas na freqüência e a torre está pedindo mais separação, ok?

Piloto - Não há problema

18h30m

Piloto - 3054 descendo (...)

Controladora - "vamos ver se não vai precisar da órbita, ok?"

Piloto - "muito grato"

18h34m

Piloto - Controle pode informar ao 3054 da TAM se chove em Congonhas?

Controladora - Chuva leve e contínua, mas não foi reportada ainda pista escorregadia, ok?.

Piloto - Muito grato

18h46m

Piloto - Torre São Paulo, TAM 3054

Controlador da torre, Celso Domingos Alves Júnior - Boa noite 3054 reduza para mínima de aproximação (...)

Piloto - Boa noite, reduzindo para mínima (...)

18h48m

Piloto - TAM, na (aproximação) final, duas milhas. Poderia confirmar as condições?

Controlador - Pista molhada e escorregadia

CPI DO SENADO

Demóstenes: empresas que constroem em aeroportos no país são gangues

Publicada em 09/08/2007 às 15h07m

Evandro Éboli - O Globo; Agência Senado


A CPI do Apagão Aéreo no Senado ouviu procuradores da República que investigam obras e licitações em aeroportos

BRASÍLIA - O relator da CPI do Apagão no Senado, Demóstenes Torres (DEM-GO), disse nesta quinta-feira que as empreiteiras que ganham as licitações para obras nos aeroportos do país atuam como "um esquema de crime organizado".
- São verdadeiras gangues instaladas no país. Não há dúvida que as empresas atuam em conluio, em esquema de crime organizado, com irregularidades nas licitações e superfaturamento - atacou o senador.
O senador afirmou não entender por que apenas "sete ou oito empreiteiras abocanham essas obras" se existem cerca de 3 mil empresas de engenharia no país. Ele defendeu que as licitações da Infraero passem a ser feitas de forma fracionada, e não global, como é feita hoje. A segunda opção abre margem para que as empresas se unam e atuem em consórcio para as obras.

A CPI ouviu nesta quinta-feira sete procuradores da República de seis estados. Todos disseram ter encontrado indícios de irregularidades em obras realizadas pela Infraero em aeroportos brasileiros. Na maioria dos casos, segundo relataram, foram encontrados indícios de problemas nas licitações e na execução das obras.

Procurador diz que ação da FAB contra buscas foi bandidagem

O procurador da República em Guarulhos (SP) Matheus Baraldi chamou de blindagem o fato de a Aeronáutica ter entrado na Justiça para barrar o pedido de busca e apreensão nos centros de controle aéreo de São Paulo e Brasília, na terça-feira . Baraldi foi o responsável pelo pedido, aceito pela Justiça Federal, que levou a operação da Polícia Federal que buscou documentos nas instalações da Aeronáutica.

- Há um abismo entre a Aeronáutica e a sociedade. O controle aéreo pode estar sob controle militar, mas é uma atividade civil, como saúde e educação - reclamou Baraldi, em depoimento na CPI do Apagão no Senado.
Após a ação da PF, a Aeronáutica - via Advocacia-Geral da União - entrou na Justiça e conseguiu os documentos apreendidos de volta. O ministro da Justiça, Tarso Genro, chegou a criticar o fato de a Justiça ter acatado o pedido de Baraldi .

O procurador de Campinas, Paulo Roberto Galvão de Carvalho, por sua vez, disse que foram encontrados indícios de irregularidades na construção de um edifício administrativo no Aeroporto de Viracopos. A licitação foi vencida por uma empresa que apresentou preços abaixo dos de mercado. Depois de vencida a licitação, o projeto executivo foi modificado e a obra passou de uma valor de R$ 17 milhões para R$ 21 milhões, ficando assim com preços acima do usual. A obra teve início em 2001, mas terminou em 2005, depois de passar por sete aditivos. O procurador destacou que os itens alterados no projeto foram de"acabamento estético".

Procurador de Mato Grosso, Marcellus Barbosa Lima afirmou que recebeu denúncias de que uma empresa teria recebido dinheiro da Infraero sem ter realizado a obra. Ele confirmou que a construtora Triunfo foi contratada para fazer obras no terminal de passageiros, em contrato no valor de R$ 16 milhões, mas a construtora não concluiu o serviço, desistindo da obra e repassando o trabalho para outra empresa, a Geosolo. Marcellus Lima contou que, apesar da desistência do serviço, a Infraero não aplicou penalidade à construtora, devolveu a garantia e ainda pagou R$ 750 mil por serviços supostamente prestados.

O procurador da República em Pernambuco, Marcelo Mesquita Monte, que investiga o Aeroporto de Pernambuco, disse que há indícios de irregularidades na compra de obras de arte para o aeroporto. Segundo o procurador, foram compradas obras de arte no total de R$ 1 milhão e há denúncias de que haveria sobrepreço e de que as peças teriam sido compradas da empresa da mulher do então presidente da Infraero, Carlos Wilson.

O Procurador do Rio, Vinícius Panetto do Nascimento, investigou obras no Aeroporto Santos Dummont, e citou irregularidade como o "não-fracionamento de objetos da obra", que foi licitada de forma global, e também o tipo de licitação escolhida, a de técnica e preço. Ele disse que teria que ser feita perícia pela PF, para saber quanto teria custado a mesma obra à Infraero se tivesse sido realizada seguindo os padrões indicados pelo TCU.

Carlos Fernando Mazzoco, procurador da República no Espírito Santo, disse que houve denúncias de irregularidades na pista de pouso e decolagem que está sendo construída no Aeroporto Internacional de Vitória. De acordo com essas denúncias, a pista ficaria muito próxima a um monte, o que diminuiria sua segurança, especialmente em decolagens em condições adversas. Ainda assim, a pista foi construída.

O procurador no Amapá, Rodrigo Luiz Bernardo Santos, investigou irregularidades no Aeroporto Internacional de Macapá. Segundo ele, houve denúncias de irregularidades em uma obra e o TCU passou a monitorar a sua execução. Segundo o procurador, o edital favoreceu o que chamou de "o conluio entre empresas" e a foi adotado o critério "técnica e preço" para a escolha dos vencedores. A concorrência para a obra, no valor de R$ 112 milhões, foi vencida por um consórcio entre empresas do qual participou a Gautama, envolvida na Operação Navalha.

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