segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Reflexões de um Coronel que também chora

Produzido por Ternuma Regional Brasília
Por Cícero Novo Fornari - Cel Ref
Brasília DF, 22 de agosto de 2007


Exmo Sr. Brigadeiro JORGE KERSUL FILHO,


Pelos anos de conhecimento e pela amizade que une nossas famílias, creio que posso tratá-lo como no tempo em que você era tenente e eu já era coronel.

Assisti pela televisão, ao vivo, você chorando. Confesso que tomado pelo mesmo sentimento de angústia e de revolta eu também me emocionei e chorei. Não se faz isso com um oficial sério, brioso, competente, líder inconteste, com uma carreira brilhante desde os bancos escolares até alcançar o generalato, responsável por seus atos e respeitado por seus pares e subordinados.

A sua mensagem “HOMENS DE HONRA”, que circulou pela internet é uma obra de arte, digna de ser emoldurada e colocada em todas as organizações militares da Aeronáutica.

Você não deveria ter sido usado como “boi de piranha” e atirado no centro da arena do Coliseu Romano como se fazia com os primeiros cristãos.
Você não tem um chefe?
O fato lamentável da queda de dois aviões comerciais não justifica o tratamento reprovável dado à Aeronáutica, pré-julgando a sua culpabilidade sobre os acidentes, acusando-a até de ter pilhado e roubado objetos e documentos dos destroços das aeronaves sinistradas.
É sabido e notório que na ocorrência de acidentes com caminhões que transportam cargas, desde simples frutas e frangos até material eletrônico, surge logo um bando de pessoas para pilhar o butim como se fosse o despojo do inimigo. Há pouco tempo ocorreu um acidente de avião com grande carga de dinheiro, que foi saqueado, rapidamente, pela população rural das proximidades. A imprensa nacional noticiou esse fato. Poucos devolveram pequena parte do dinheiro e ninguém foi acusado de nada.
Agora, pessoas que desconhecem o valor, a probidade, o espírito cívico e patriótico do pessoal da Busca e Salvamento da FAB, levantam suspeitas infundadas, maliciosas e capciosas apenas para ferir uma Instituição respeitável e respeitada que já prestou, presta e ainda irá prestar inestimáveis serviços ao nosso povo.
No tempo em que tudo era controlado pela Diretoria da Aeronáutica Civil (DAC), subordinada ao Ministro da Aeronáutica, tudo corria dentro do clima de normalidade. Agora, com a criação da “ANARQ” (de anarquia), um cabide de empregos para cabos eleitorais desempregados e analfabetos em matéria de aviação, deu no que deu.
Está tudo dentro do esquema GRAMSCISTA de desmoralização e destruição das nossas FORÇAS ARMADAS.
Sobre o acidente da GOL, tem gente doutrinando sobre operações na selva. Eles mal conhecem o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o Parque do Ibirapuera em São Paulo ou o Parque da Cidade em Brasília. Eles não sabem o que é passar apenas uma hora na SELVA AMAZÔNICA, quanto mais dias, semanas... Lá o soldado está sempre com o uniforme completamente encharcado de suor ou de chuva. Na época da seca (verão), chove todo dia. Na época da chuva (inverno), chove o dia todo. Os insetos são terríveis. Durante o dia temos o PIUM, um minúsculo inseto voador que ataca aos bandos, que chegam a escurecer a lente dos óculos e as suas ferroadas provocam pelotes na pele, coceira e feridas. À noite os piuns passam o serviço para o CARAPANÃ, o famoso pernilongo da selva que ataca qualquer centímetro quadrado de pele que ficar descoberto, causando efeito mais devastador que o do pium. Os dias são muito quentes e as madrugadas bem frias. Durante a noite, as aranhas, escorpiões e cobras procuram se aquecer nas pessoas que estão dormindo no chão; isso não acontece sempre, mas acontece. Ao entardecer temos que nos preocupar com o mosquito FLEBÓTOMO, que serve de vetor para a LEISHMANIOSE, doença conhecida como lepra da selva.
Os animais de maior porte não causam incômodo ou medo, porque podem ser vistos e evitados ou abatidos. Os espinhos são muito doloridos. Entram nas pernas, nos braços e nas mãos, a pontinha deles se quebra e fica na nossa carne. Não adianta querer tirá-los, a maneira prática é deixá-los onde estão e depois de uns dois dias, quando o local está inflamado, é só apertar que o espinho sai junto com o pus.
Não podemos nos esquecer da CABA, uma vespa de veneno fortíssimo que faz dispersar qualquer coluna de valentes soldados.
Mas, a missão é muitíssimo mais importante que esses pequenos incidentes de percurso.
O transporte de uma maca com um ferido ou um cadáver é muito difícil e penoso. A prioridade número 1 é para os feridos, número 2 para os mortos e número 3 para o material.

A despeito de tudo que dissemos, a SELVA É NOSSA AMIGA. Basta saber como usá-la, como o pessoal do PARASAR faz com maestria e com muito amor ao próximo e à PÁTRIA.
No Congresso Nacional existem diversos AMAZÔNIDAS que podem orientar seus colegas para que não reabram as cicatrizes existentes no corpo e na alma daqueles que estão trabalhando, diariamente, no sacerdócio de salvar vidas e resgatar corpos humanos para serem entregues às suas sofridas famílias.

-Nada acontece por acaso!
O meu querido EXÉRCITO já sofreu e vem sofrendo várias campanhas visando desmoralizá-lo. Foi criado até um exército GENÉRICO para substituí-lo.
Já existe até um “general de exército” que não é genérico, mas sim um criminoso, pois está enquadrado no parágrafo único do Artigo 76 do Estatuto dos Militares, sendo que a Procuradoria da Justiça Militar já tomou conhecimento do fato e deve estar promovendo a denúncia legal.

Agora a bola da vez é a AERONÁUTICA.
A nossa MARINHA pode esperar que chegará o seu turno.
Pode faltar tudo, mas nós temos o que de mais precioso existe. Temos gente bem preparada para a guerra. Temos gente como você. Não desanime, não se abata.
Você, agora, é um símbolo onde os mais jovens irão buscar inspiração para continuar na luta. O BRASIL espera que você continue cumprindo o seu dever até chegar aos postos mais elevados para poder suprir a nossa endêmica falta de chefes.
Isso me faz recordar um filme sobre a 2ª Guerra Mundial onde, nas últimas cenas, o almirante japonês, em plena batalha do Mar de Coral, ao ver suas naves atingidas por torpedos, pratica o HARA-KIRI.
KERSUL, a sua querida POUSO ALEGRE está orgulhosa em tê-lo como filho. Tinha que ser um mineiro...
A Dra. Sandra, sua digníssima esposa, médica competente e fiel companheira nos bons e nos maus momentos, está do seu lado, agora e sempre.
O seu filho RAFAEL, Cadete da ACADEMIA DA FORÇA AÉREA, pode apontar para o próprio peito e dizer:
-Este nome KERSUL, que ostento em meu uniforme, é digno e honrado! É a melhor coisa que herdei do meu pai, meu PAI-HERÓI!
Para finalizar desejo expressar as palavras do Ten Siqueira Campos, um dos “18 do FORTE”, em 1922:
“À PÁTRIA TUDO SE DEVE DAR, NADA PEDIR, NEM MESMO COMPREENSÃO”.
Excelentíssimo Senhor Brigadeiro JORGE KERSUL FILHO. Rogamos a DEUS, o nosso GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO, que guie os seus passos e ilumine os seus caminhos, fazendo com que a FORÇA AÉREA BRASILEIRA leve cada vez mais alto a BANDEIRA DO BRASIL.

- BRASIL ACIMA DE TUDO!
- SELVA!
- BRASIL!


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