domingo, 22 de julho de 2007

“Coração sangrando"

ELIANE CANTANHÊDE
BRASÍLIA - elianec@uol.com.br

Pois é, presidente, quem está com o "coração sangrando" é a população brasileira, traumatizada por mais 200 mortes e aterrorizada por dez meses de crise, inépcia, falta de comando -ou desgoverno, enfim. O brigadeiro Saito, que parecia decolar, está mal assessorado. A Infraero vive sob bombardeio. A Anac... bem, é um núcleo de políticos voando pelo país e brincando com questões técnicas -e mortais. Eles, porém, têm chefes. Mas o ministro da Defesa diz que "não é administrador de tráfego aéreo". E o presidente da República demora dez meses para fazer alguma coisa, 73 horas para falar e diz na TV que está com o "coração sangrando". A sensação, presidente, é a de que as pessoas estão entregues à própria sorte, a companhias aéreas que voam como querem e a sargentos controladores de vôo que param o país, promovem operações-padrão que a lei veta para militares e agora aliados aos aeronautas. Imagine como eles, estressados, estão voando com nossos maridos, mulheres, amores, filhos e pais. A principal causa do acidente do Airbus-A320, conforme antecipou a Folha na quinta-feira, provavelmente foi falha mecânica no reversor. Mas acidentes aéreos são resultado de uma série de fatores e, neste, o governo é um dos grandes culpados. Não teve comando, deixou o ambiente se deteriorar, não fiscalizou devidamente as companhias. É como numa casa: se os donos jogam tudo para lá, os filhos não tomam banho, a empregada chega às 11h, o cachorro faz cocô na sala. O pior, presidente, é que nunca foi esclarecida a seqüência de "coincidências". Em 30 anos, nunca havia crise. Em um, panes em radares e/ou em rádios em Brasília, Curitiba e Manaus, até blecaute no aeroporto da capital da República. Crise nos aeroportos num dia, pane no sistema no outro. Mesmo com o "coração sangrando", convém desconfiar de "coincidências".

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