sexta-feira, 27 de julho de 2007

DEPOIMENTO DE MÃE QUE PERDEU DOIS FILHOS NO ACIDENTE




No dia da tragédia do Airbus, entre as imagens que mais emocionaram o país estavam as de Cristiane Bueno, a mãe filmada no momento em que recebia a notícia da morte dos dois filhos no acidente. Na sua primeira entrevista, ela falou à repórter Carla Modena.

Cristiane ainda tem dificuldade em acreditar no que aconteceu. “Parece que não caiu a minha ficha ainda. Você vê no jornal o nome dos seus filhos, para a missa deles... e fala, ‘não, não é isso!’”.

Na hora do acidente, Cristiane estava com o ex-marido em Congonhas esperando os filhos, que vinham da casa do avô, em Porto Alegre. “A gente fez aqueles cartazes Rafaela, com ‘Miss Rafaela’ e Mr. Caio’, e estava esperando”, ela lembra. “Começou a desembarcar um pessoal que tinha chegado da sala de desembarque desesperados, dizendo que um avião tinha caído".

Os bombeiros já trabalhavam no prédio onde o avião bateu quando veio a confirmação: era o vôo 3054. O desespero de Cristiane se tornou um símbolo da dor de outras mães.

Caio tinha 12 anos, e Rafaela, 17. Foi o piercing, adereço comum na adolescência, que ajudou na identificação do corpo da filha. Rafaela já estava na faculdade, mas a imagem que Cristiane guarda dos filhos é a de duas crianças. “São meus filhinhos ainda. Pra mim eles eram tudo. A coisa que eu mais fiz de perfeito no mundo, morreu, só isso!”, ela diz, emocionada.

Apesar da comoção, Cristiane teme que a tragédia caia no esquecimento. “Não vamos fechar a porta de casa e falar ‘pô, que tragédia, né?’, e no dia seguinte fazer como se nada tivesse acontecido. Porque aconteceu”. Ela faz um apelo: “A gente tem que parar, parar de reclamar, parar de chorar, parar de se lamentar e dar um basta. Eu não sei como: protestando, manifestando, criando. Tem que haver algum modo, algum jeito de nós nos tornarmos verdadeiros cidadãos, em tudo”.

Para os governantes, ela pede respeito e atitude: “Eu queria transferir o meu luto, a minha vergonha, para as famílias daqueles que deviam honrar os cargos deles com atitudes, com soluções, com respostas”.



PARA CRISTIANE


É Cristiane, há pessoas demais nesse país que não honram os cargos que ocupam - nem as profissões que exercem, nem ao juramento profissional que tenham feito, nem a Constituição Brasileira. Essa gente, com certeza, não passará a fazê-lo nem depois do seu apelo, nem depois da morte de seus dois queridos filhos e de outros tantos filhos, pais, avós, maridos, esposas e amigos queridos. É simples, Cristiane, eles não sabem o que é honra.

Mas, felizmente, ainda há os brasileiros que a exercitem. E são estas pessoas que devem tirar dos cargos que ocupem aqueles que lá não deveriam estar, justamente pela sua falta de competência, não só técnico-profissional, mas também e principalmente emocional - o que lhes qualifica como pessoas de mau caráter, de péssima índole, covardes, aproveitadores, gananciosos, burros por natureza e desespiritualizados.


Como disse o mandatário desta terra que já foi uma nação, em tardio pronunciamento em cadeia nacional, direcionado aos brasileiros e aos parentes das vítimas do acidente com o Airbus da TAM, "Nada que se possa fazer trará de volta aqueles que amamos e perdemos... Sei que não há palavras para confortá-los nesta hora..." Foram as únicas verdades que pronunciou. Realmente nada trará de volta à vida aqueles que morreram na tragédia e também não são palavras que confortarão aos que neste mundo ficaram com as dores da perda e da saudades de seus entes queridos.


Mas há muito o que fazer e o que falar para que a morte não seja vista em tantos casos como simples contingência da vida humana. Não só as mortes destes brasileiros, mas de tantos outros milhares que têm morrido por este país, vítimas de acidentes nas estradas mal feitas e esburacadas, nos hospitais sem recursos e sem atendimento, nas ruas - vitimadas pela violência urbana-, nos asilos e nos casebres onde desfalecem os aposentados cuja renda não permite que sobrevivam condignamente, nos confins desta terra onde centenas de pessoas definham por não receberem indenizações que lhes são devidas pelos governos que se sucedem. E são tantos os mortos...


A vida realmente não tem preço. Mas a morte de milhares de pessoas deve sim ser avaliada e sobre seus causadores deve também se impôr a justiça - a dos homens, que seja pelo menos. E muitos, muitos brasileiros já desejam que esta conta seja feita. Já passou da hora!

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