terça-feira, 31 de julho de 2007

SEGUNDA CHANCE

Christina Fontenelle
Julho de 2007

Trezentos e Cinqüenta e Três (353) mortos ainda não são motivo suficiente para trocar a diretoria não especializada em assuntos aeroportuários da Anac. Governo acha que os diretores da agência merecem uma segunda chance. Quanto aos mortos e seus familiares, a estes não foi dada nem a primeira - quanto mais uma segunda oportunidade. Na Infraero, a situação é diferente: "brigadeiros" podem perfeitamente ser substituídos por "paçoquinhas" - doces mais apropriados ao apreço do Planalto pelas tradicionais festividades juninas.

Segundo o próprio presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, ao comentar sobre sua saída do órgão: "Tudo o que entra sai - tudo o que sobre desce". Realmente. E só para completar: tudo que é comprado com muita facilidade e por preço muito baixo é descartável. Assim foi com ele e assim será com todos aqueles que tiverem tido a ilusão de que círculos fechados de gente com profundas raízes ideológicas são penetráveis, especialmente por aqueles que se vergam ao oportunismo. Não são. Grupos assim costumam, inclusive, ter mais consideração com inimigos declarados - desde que não os ameacem efetivamente, é claro.

Ao contrário do que se veiculava na mídia na semana passada, o presidente da Anac, Milton Zuanazzi, disse que não renunciará ao cargo e que não existe nenhuma cogitação de um pedido de demissão coletiva da agência. Eles têm o apoio do Planalto. O presidente Lula disse a seus ministros, durante a reunião de coordenação política nesta segunda-feira, que não há intenção do governo de pedir que o comando da Anac renuncie.

O governo decidiu aguardar mais um pouco para ver como é que a Anac vai proceder nessa fase de implementação das medidas determinadas pelo Conselho de Aviação Civil (Conac), sob a batuta do novo ministro da defesa, Nelson Jobim. Por outro lado, uma ação apresentada pelo presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), pediu a impugnação de toda a diretoria da agência. O juiz Guilherme Couto de Bastos, da 19ª Vara Federal do Rio, pretende ouvir os diretores da Anac para comprovar se eles detêm os conhecimentos exigidos para exercer as funções que desempenham na agência, antes de se pronuciar sobre a possibilidade de impugná-los.

Então é isso. Vamos todos ter paciência e esperar que um piloto da FAB, cercado por um sociólogo, um economista, um político e uma advogada resolvam os problemas do setor de aviação civil, sob o comando de um bacharel em Direito e político que é ministro da defesa (isso mesmo: aquele que comanda as Forças Armadas. Como todos estão cansados de saber, advogados e militares têm carreiras, interesses e práticas profissionaispraticamente simbióticas). Não podemos esquecer, é claro, do especialista em pepinos que deverá assumir a presidência da Infraero. A especialidade foi recomendada pelo brigadeiro que deixa o cargo, em esmiuçada dissertação sobre tal legume numa dessas declarações que costuma dar à imprensa.

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Um comentário:

Unknown disse...

O que pilotos de países da Europa e USA querem saber é se existe no Brasil uma Agência REGULADORA de Aviação Civil independente de política, caso não tenha toda a gestão de aviação civil para eles é duvidosa.

Já está consagrada, nos paises desenvolvidos e outros em desenvolvimentos, a fórmula das Agências reguladores para a Aviação Civil.

Todavia, aqui no Brasil, o conceito que está consagrado, já começou errado, com a nomeações políticas dentro da ANAC.

Se a diretoria inteira não for substituida por gestores independentes, não haverá credibilidade no exterior as declarações das autoridades brasileiras de que há segurança no espaço aéreo brasileiro.

Quando um avião sofre pane em todos seus instrumentos digitais ( glass cockpit ) os pilotos passam a voar "raw data" e deste instnte em diante volta-se aos procedimentos aéreos de Santos Dumont, que são: tempo é tempo e rumo é rumo, ou seja, o que garantirá a chegada ao destino é a PROA na bússola chinesa e o relógio no braço do piloto para cronometrar as etapas do vôo.

Num espaço aéreo sem segurança, como um avião voando "raw data", o que já aconteceu com vários amigos meus, poderá chegar ao aeroporto da alternativa?

Será um vôo "roleta russa", pois voando-se "raw data", não se pode pousar em qualquer aeroporto na vizinhança do acontecimento.

Os pilotos sentirão a angústia de não encontrar um aeroporto com as especificações mínimas para sua aeronave em emergência.

Não se deve dar uma "SEGUNDA CHANCE" a esta diretoria da ANAC.

Desde quando há ÉTICA no procedimento do FISCALIZADOR ser beneficiado financeiramente pelo FISCALIZADO?

É sabido por todos pilotos de avião que os proprietários de empresas aéreas mantém no "staff" da empresa militares da Aeronáutica que foram admitidos como FACILITADORES dentro da ANAC.

Facilitadores para os interesses dos militares aviadores da Aeronáutica dentro da Agência que deverá ter gestão civil para a Aviação Civil.