quinta-feira, 26 de julho de 2007

Quatro anos para ver o óbvio

CLÓVIS ROSSI
São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2007
FOLHA

É formidável a rapidez fulminante com que o presidente Lula tira conclusões. A mais recente delas surgiu na posse de Nelson Jobim como novo ministro da Defesa: "Digo categoricamente que é preciso repensar neste país o Ministério da Defesa. Porque o Ministério da Defesa, tal como está, está aquém daquilo que é a exigência da sociedade brasileira. É preciso que tenhamos um ministério com a força suficiente para fazer o que precisa ser feito. Desde reequipar as Forças Armadas brasileiras até colocar pessoas para tomar conta de tudo o que é pertinente".
Quanto tempo mesmo faz que Lula é presidente da República? Quatro anos, seis meses e 25 dias, certo? Caramba, como é que conseguiu em tão pouco tempo descobrir tudo de uma vez só? Aliás, não seria em todo lugar, e não só na Defesa, que é preciso colocar "pessoas para tomar conta de tudo o que é pertinente"? Ficamos, pois, sabendo que, pelo menos no Ministério da Defesa, não havia uma "pessoa para tomar conta de tudo o que é pertinente". Só não se sabe se havia alguém que tomasse conta de "coisas que não são pertinentes".
Só lamento ter que discordar de de Lula quando diz que "não é segredo para nenhum brasileiro que temos uma crise no setor aéreo, numa combinação de várias coisas que vêm acontecendo nos últimos meses". Um brasileiro, chamado exatamente Luiz Inácio Lula da Silva, não sabia que havia uma crise, tanto que levou todos esses meses até decidir fazer alguma coisa. Seria bom que o presidente aproveitasse o momento de descoberta do óbvio que viveu ontem para pôr de lado a auto-exaltação em que se tornou campeão para reconhecer que há uma pilha de outros setores que é preciso repensar. Não tem mais quatro anos para enxergar a vida como ela é.

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