Fonte: Jornal da Globo
Quinta-feira, 26 de Julho de 2007
Pilotos e pessoas ligadas a aviação não gostaram de ver diretores da Anac receberem a condecoração Santos Dumont três dias depois do pior acidente aéreo da história do Brasil. Alguns deles querem devolver suas medalhas.
Pilotos e pessoas ligadas a aviação não gostaram de ver diretores da Anac receberem a condecoração Santos Dumont três dias depois do pior acidente aéreo da história do Brasil. Alguns deles querem devolver suas medalhas.
Foi com espanto que o ex-comandante Milton Comerlato, condecorado com a medalha mérito Santos Dumont, reagiu ao saber da notícia. “Eu não quis ver, não olhei na televisão. E achei que foi uma agressão muito grande aos 200 mortos”, disse o ex-piloto.
Na semana passada, o presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Milton Zuanazzi, a vice-presidente da agência, Denise Abreu, e dois diretores receberam a premiação em Brasília.
Vinte anos atrás, Milton Comerlato, que na época trabalhava na maior companhia aérea do pais, ganhava a mesma distinção, por nunca ter se envolvido num acidente. “Eu recebi por mérito, não por política”, ele diz. Apesar da resignação, Milton pretende deixar a medalha de herança para os quatro filhos aviadores.
A medalha do mérito Santos Dumont foi criada em 1956 pelo então presidente Juscelino Kubischeck para premiar militares, cidadãos brasileiros e estrangeiros que tenham prestado serviços relevantes à Aeronáutica.
O presidente da Associacão Nacional em Defesa dos Diretores dos Passageiros do Transporte aéreo foi um dos primeiros a anunciar a devolução da medalha. Desde 1988, Claudio Candiotta exibe seu diploma no escritório de trabalho.
Ele está nos Estados Unidos e, por telefone, disse que na volta ao Brasil vai reunir outros colegas para também devolver a premiação que receberam. “Eu considerei uma falta de respeito à memória das vítimas, às famílias das vítimas e à própria história de Santos Dumont. Eu considero que perdeu o sentido, desvirtuaram o espírito dessa medalha”, disse Candiotta.
O piloto Nelson Riet Correa mandou nesta quinta-feira um ofício ao comandante da Aeronáutica se desfazendo da distinção, que ele considerava um reconhecimento pelas 25 mil horas de vôo pilotando Boiengs no Brasil e na Europa.
“Eu tenho certeza que os brasileiros näo apóiam essa condecoração, vendo o que se está se vendo aí, esse desastre aéreo em todas as áreas. É uma forma de protestar”, acredita Correa.
EMPRESÁRIO GAÚCHO VAI DEVOLVER MEDALHA SANTOS DUMONT
Fonte: Zero Hora/RS
Por: HUMBERTO TREZZI
Por: HUMBERTO TREZZI
humberto.trezzi@zerohora.com.br
26/7/2007
26/7/2007
O empresário gaúcho Cláudio Candiota Filho, 56 anos, quer expressar com um gesto forte sua solidariedade às 199 vítimas do desastre com o avião da TAM. Vai devolver a Medalha do Mérito Santos-Dumont, recebida em 1989 da Aeronáutica, por serviços prestados à aviação com sua empresa de turismo. Candiota, que também é piloto civil, ficou revoltado ao saber que a mesma honraria foi dispensada a diretores da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) na semana passada, três dias depois da tragédia em São Paulo.
Nesta entrevista, concedida ao jornal Zero Hora, desde os EUA, onde participa da tradicional feira de aviação de Oshkosh (Wisconsin), o empresário fala sobre o caos aéreo que motivou sua decisão.
Zero Hora - Por que o senhor decidiu devolver a medalha Santos-Dumont?
Cláudio Candiota Filho - Recebi a Medalha Mérito Santos-Dumont em 1989. Fiquei sabendo que os diretores da Anac haviam recebido a Medalha Santos-Dumont quando estava saindo do velório de Paulo Rogério Amoretti Souza, ex-presidente do Inter, a quem conhecia há muitos anos. Um coronel da FAB telefonou para meu celular e, estarrecido, me contou. De imediato, veio a lembrança das famílias das vítimas da tragédia da Gol (em setembro de 2006) reclamando do tratamento inadequado que haviam recebido da diretora da Anac, Denise Abreu. As famílias pediram ao governo o afastamento da Anac.
ZH - O senhor entende que os diretores não merecem a distinção concedida pela Aeronáutica?
Candiota Filho - A medalha é concedida para quem tem relevantes serviços prestados à Aeronáutica. Ao que me consta, nenhum dos diretores da Anac agraciados na semana passada tem relevantes serviços prestados à Aeronáutica.
ZH - Quando o senhor pretende devolver a medalha?
Candiota Filho - Pretendo devolvê-la, formalmente, quando retornar ao Brasil. Os agraciados da Anac foram, no mínimo, omissos diante das duas tragédias.
ZH - O senhor acredita que pode acontecer um movimento de devolução coletiva?
Candiota Filho - Olha, ouvi falar que o comandante Nelson Riet Corrêa pretende devolver a dele. Vou devolver a minha medalha porque minha consciência e dever ético assim determinam. É o mínimo que poderia fazer em respeito à memória das vítimas da Gol e da TAM. Todas são vítimas da omissão e da má gestão da Anac e, por óbvio, de seus diretores. Quanto às medalhas, o importante é descobrir quem mandou concedê-las. Alguém mandou. Seja lá quem for que decidiu dar a medalha, teve uma idéia péssima em um momento pior ainda.
ZH - A quem o senhor atribui a culpa pelo caos aéreo?
Candiota Filho - A aviação, tanto civil, quanto militar, não sobrevive sem hierarquia, disciplina e profissionalismo. Sem esse tripé, o sistema desaba. Esses três requisitos foram retirados com a entrada da Anac e do Ministério da Defesa. Acabou o sistema. Quando o DAC foi extirpado do Sistema de Aviação Civil e, em seu lugar, colocado um corpo estranho, chamado Anac, ocorreu a falência múltipla de órgãos combinada com rejeição.
ZH - Quais as conseqüências disso?
Candiota Filho - Nesse período desapareceu a maior e mais tradicional empresa aérea do Brasil, a Varig. Até aí, não seria nada, se não tivessem sido cancelados 200 vôos por dia. A qualidade dos serviços aéreos caiu vertiginosamente, os preços subiram estratosfericamente, instalou-se o caos nos aeroportos. Um colapso total do sistema de transporte aéreo brasileiro, algo jamais visto desde Santos-Dumont. Milhões de usuários foram e continuam sendo lesados. E, para culminar, os dois maiores desastres aéreos da história do Brasil, com quase 400 mortos.
ZH - Qual seria a saída?
Candiota Filho - Diante de todo esse descalabro, só há uma solução:recolocar profissionais para, primeiro, administrar o caos e sair dele. Aqueles que geraram o caos nos aeroportos não têm a menor condição de administrá-lo e encontrar uma saída, até porque não sabem o que fazer. Assim, sobra apenas uma alternativa: extinguir a Anac, revogando a lei que a criou e restabelecer o antigo DAC, subordinado ao extinto Ministério da Aeronáutica. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá de optar entre sacrificar cargos ou sacrificar vidas.
ZH - Como o senhor vê a nomeação de Nelson Jobim como ministro da Defesa?
Candiota Filho - Que eu saiba, o Nelson Jobim é um excelente advogado, o que não significa que entenda alguma coisa de aviação, transporte aéreo e defesa. O caos aéreo vai continuar.
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