Por: Waldo Luís Viana*
18/07/2007
Desde a 2ª Guerra Mundial, o controle do espaço e da navegação aéreos foram entregues ao Ministério da Aeronáutica, através do Departamento de Aviação Civil.
Pouco a pouco, no entanto, a segurança do setor aéreo, com qualidade estimada muito próxima aos padrões de Primeiro Mundo, foi cedendo lugar em importância financeira ao controle de terra, aero-portuário, entregue à INFRAERO, enquanto os recursos da Força
Aérea minguavam, pouco a pouco.
Deu-se, então, o paradoxo. Um Ministério
da Aeronáutica completamente deficitário,
mas com controle supervisor, e uma INFRAERO
riquíssima, na exploração "comercial" dos
aeroportos. A senha para a alocação e exploração de verbas públicas estava realmente ali. E a cunha perfeita para a corrupção política estabeleceu-se ali...
Desde meados do segundo mandato de FHC já se discutia a desmilitarização do setor aéreo.
Durante o governo Lula foi criada a Agência
Nacional de Aviação Civil - ANAC, recebendo
em torno de si as responsabilidades regulatórias antes respondidas e fiscalizadas pelo DAC.
Ao assumir o controle da Agência, o governo
do PT tratou de utilizar a ANAC como mais uma
ponta de lança do poder partidário, um cabide de empregos sob comando da "gerentona" Dilma Roussef, que para lá deslocou os seus acólitos. Por sua vez, os políticos ligados ao governo passaram a comandar desabridamente as licitações da INFRAERO, que passaram a
ensaiar a modernização dos aeroportos, transformados em shoppings centers bastante
equipados e confortáveis. Cada reforma de aeroporto tornava-se uma flor do lácio de corrupção e distribuição de propinas entre empresas privilegiadas, ora investigadas pelas CPIs do Congresso.
O privilégio do conforto, em detrimento da modernização de equipamentos de controle aéreo e das condições de navegabilidade nos próprios aeroportos, foi a constante gerencial
do governo petista.
Os resultados passaram a ser visíveis: crise
aérea profunda, traduzida em atrasos e cancelamentos de vôos; "overbooking" continuado em aeronaves, aumento dos
intervalos entre pouso e decolagem de
aeronaves e decréscimo de qualidade dos
padrões de qualidade e eficiência dos controladores de vôo, preocupados agora em montar uma rede de sindicalização e de satisfação de reivindicações salariais, naturalmente proteladas antes, até em
outros governos, mas que não poderiam ser resolvidas de uma vez pelo governo Lula.
Passou a haver, inclusive, a competição entre controladores civis e militares, em torno de salários, criando episódios incomparáveis de quebra de hierarquia e disciplina na Força Aérea.
A conseqüência funesta foi o "apagão aéreo"
que presenciamos, com a falência dos serviços
básicos nos principais aeroportos, produzindo
caos nas atividades de embarque e desembarque de passageiros, além de atrasos e cancelamento de vôos.
A tragédia anunciada foi se configurando nos céus e na terra, assim como se aprofundavam problemas crônicos, principalmente no aeroporto de Congonhas, assolado pelo fenômeno da "superlotação"
de passageiros e aeronaves.
Tirando-se o crônico dilema de teimosamente, manter aeroportos dentro de grandes metrópoles, como acontece no Rio, São Paulo e Belo Horizonte - o que multiplica a possibilidade de graves tragédias, a pista de Congonhas foi reformada às pressas e também liberada às pressas sem as condições de
operacionalidade exigidas para pousos e decolagens nos nível profissionais e de segurança, exigidos por aquele aeroporto.
Alertados das condições pouco favoráveis da pista com ocorrência de chuva, com pilotos chamando a atenção para as derrapagens possíveis, as autoridades aero-portuárias não tomaram as devidas providências "preventivas", tentando "tapar o sol com a peneira", ou seja, retirar o governo petista da defensiva através da normalização artificiosa da prestação dos serviços, em Congonhas.
Vale dizer, sem privilegiar as normas técnicas de segurança, mas a utilização da pista reformada para manter a normalidade da
grade de horários, produziu-se um mostrengo:
um aeroporto superlotado, com várias
ocorrências de desvios para Viracorpos,
sofrendo o perigo de colisões em taxiamento e
nas operações de decolagem e pouso.
Tal situação chegou ao paroximo com o grave acidente, previsível e anunciado, do dia de ontem, com mais de 180 mortos e grandes danos materiais.
Além da repercussão internacional, que levam as autoridades governamentais à perplexidade, sabe-se que não teremos explicações a curto-prazo para a interpretação do problema e a localização dos culpados.
Como sempre, as manobras diversionistas serão acionadas pelas autoridades para evitar "a politização" do caso, mas, com certeza, nenhum ministro nem o presidente da República irão agora "relaxar e gozar". Nem tampouco irão falar na "prosperidade econômica" como causa das dificuldades do setor aéreo, principalmente diante da realidade dos caixões dos mortos.
A realidade vampiresca impõe-se a um governo cego, mudo e surdo, farsesco mesmo em sua ópera-bufa do "relaxa e goza", enquanto o incêndio de mil graus que cozinhou e ceifou a vida de tantos brasileiros e estrangeiros com certeza irá pesar, como uma sombra terrível, na consciência dos
que receberam as comissões vultosas decorrentes do descalabro dos negócios no setor aéreo.
No Brasil, como sempre, as comissões de inquérito e administrativas encarregar-se-ão
de colocar as cômodas trancas na casa arrombada. As vítimas serão lamentadas até o sétimo-dia e as famílias deverão fundar ONGs
de lamentação da cidadania a cobrar direitos e reparações diante da inflexibilidade pedestre
do poder público.
Enquanto isso, os demais brasileiros e estrangeiros pensarão duas vezes antes de singrar os maravilhosos céus de nossa escandalizada Pátria: haverão de, pelo menos
uma vez, desconfiar do "modo petista de voar".
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* Waldo Luís Viana é escritor e economista. Há muito não escreve artigos para jornais e revistas, porque acha que não adianta nada...
quarta-feira, 18 de julho de 2007
MODO PETISTA DE VOAR
Postado por REBECCA SANTORO às 12:12
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